25.7.10

Os escritores da liberdade

Ontem eu estava desesperada pra terminar logo as correções de trabalhos e lançamento de notas. Consegui, graças a Deus. Hoje eu decidi que iria ler um pouco de três livros diferentes (The Essential Calvin and Hobbes, Critical Applied Linguistics e Freedom Writers). Mas ao começar pelo último, não deu pra trocar.

Eu já tinha visto o filme 854 vezes num único fim de semana. Então decidi comprar o livro que originou o filme - os diários dos alunos da sala 203. à medida que lia, ia revivendo as emoções do filme, como se ele estivesse todo gravado na minha mente.  A cada parágrafo, cada relato de dor e desilusão, eu ia desenvolvendo a vontade de compartilhar a história daqueles alunos com MEUS alunos.

Daí eu lembrei do seguinte: nós trabalhamos muito a oralidade e a produção escrita no semestre passado - nada de leitura. Pode? Não! Lembrei também que alguns alunos meus vieram me sugerir que a gente lesse um livro, "que nem os alunos do professor Henrique" (que vai rir um bocado se um dia ler isto).

(pausa para explicações)
Eu não uso para-didáticos. Eu tenho HORROR  a paradidáticos. Não suporto textos forjados para fins didáticos. Pra mim, o texto autêntico é polifônico; o adaptado é monofônico; o forjado é AFÔNICO. É uma questão política pra mim. Como assim eu vou ensinar meus alunos a lerem textos que não existem? Como é que se aprende a ler criticamente o mundo real se na escola só se lê o mundo de mentirinha? Inclusive, já que falei em Henrique, ele foi o único colega que conseguiu despertar algum respeito pelos para-didáticos. Hoje eu não torço tanto o nariz pra eles, mas continuo firme no meu desafio de usar apenas manifestações concretas de linguagem nas minhas aulas.
(play!)

Então eu uni os pontinhos: os diários dos Freedom Writers não apenas são reais - eles são contemporâneos, divididos em trechos curtos (as entries), foram escritos por adolescentes de ensino médio que enfrentam problemas sérios relacionados a preconceito e valores - como muitos dos meus alunos! Tchã-rãããã!

Seria legal ler o livro inteiro, embora eu não faça idéia de como operacionalizar isso. Acho interessante começar pelo filme, pra estabelecer um vínculo afetivo bacana e tornar a leitura significativa.

Percebam: ontem eu estava louca pra me livrar do trabalho. Hoje eu já estou, novamente, trabalhando. Sonhando ainda, mas já trabalhando.

Sugestões de plano de aula, pessoal?

23.7.10

Reflexões monográficas

Defendi minha monografia de especialização terça passada. Foi uma experiência transformadora e libertadora. Tem noção do que é ter um doutor e um mestre mostrando o quanto ficaram inquietos com as reflexões que você suscitou? E a segurança que você precisa ter pra poder discordar deles no maior respeito? Uma discussão de cientistas - e eu era um deles!

Algumas palavras foram chave pra que a banca me caracterizasse como pesquisadora: corajosa, ousada e apaixonada. Mesmo diante de muitas críticas, esses três termos foram o suficiente pra me fazer sentir vontade de continuar.

Segue o trecho que meu crítico mais ferrenho definiu como "lindo, o coração do seu trabalho":

É importante ressaltar que se primordialmente a pedagogia crítica nasceu popular (às margens da sociedade, da prática à teoria) este segundo momento se caracteriza por uma natureza contrária, elitista (do centro (universidades) em direção à periferia , teorizada) (p. 4). Talvez por isso, por passar a ter um movimento também de cima para baixo, tantos educadores passem pelos bancos das universidades sem conseguirem efetivamente compreender o sentido da obra de Paulo Freire, vendo nela uma espécie de utopia mentirosa, de beleza fajuta. Afinal, se o caminho para a liberdade é a própria liberdade (como afirmava o ideário educacional anarquista), uma prática educativa libertadora não pode acontecer em meio à teorização, à redação de ensaios e resumos de leitura para fins de obtenção de nota. Professores tendem a reproduzir em suas salas de aula aquilo que vivenciaram em suas experiências de formação profissional. Como podemos exigir que um professor adote o diálogo como método primordial de ensino quando  seus próprios formadores (intelectuais, mestres, doutores) não dialogavam com aquele então graduando de igual para igual? Como esperar que um graduando em Letras faça, sozinho, sem ajuda, sem diálogo com um mediador, a ponte entre os princípios da pedagogia crítica e seu plano de aula de LI?

9.7.10

Reflexões

Vi tantos projetos legais no fórum de educação profissional que parei pra refletir sobre minha prática. Me percebi chinfrim. Por que eu não estou trabalhando com projetos? Por que eu tenho, dia após dia, a sensação de que pego muito leve com meus alunos?

Fiquei me sentindo mal por algumas horas. Mas logo em seguida lembrei de outras coisas. Eu tenho 18h/aula por semana, fora 4h/aula de reunião. É muito? É não! Não quando você é só professor e tem liberdade de fazer o projeto didático que quiser fora de sala de aula. Não é o meu caso.

Eu tenho uma coordenação pra tocar. Não parece muita coisa, mas passa a ser uma tarefa homérica quando você decide levá-la a sério e fazê-la bem-feita. Basicamente meu trabalho hoje é de líder de torcida: é minha a responsabilidade de fomentar a pesquisa na escola. Aí vem: temos muitos servidores sem currículo na plataforma Lattes, vamos sensibilizá-los para que criem o seu; temos outros tantos com seu Lattes desatualizado, vamos encher a paciência deles para que atualizem seus currículos; temos grupos de pesquisa que sequer se reúnem, vamos incentivá-los a retomarem seus encontros e atividades de grupo; temos alunos que nem sabem pra onde vai esse negócio de pesquisa, vamos então às apresentações, aulas, cursos de metodologia da produção acadêmica; temos servidores que jamais se engajaram em pesquise, vamos sentar com eles e descobrir um objeto de estudo interessante. Fora a organização de congressos e seminários de divulgação científica.

Eu tenho um grupo de formação pra tocar. Eu sou professora de Ensino Médio. Isso significa que os problemas que chegam até mim têm sua origem em algum dos 9 anos anteriores da escolaridade de meus meninos. No caso de LI, nos 4 anos do Ensino Fundamental II. E mais: minha escola se propõe a colaborar com a formação de professores da educação básica das redes estadual e municipal. Some-se a isso uma série de descobertas sobre o papel político do professor de LI e do próprio ensino de LI na escola brasileira - essas descobertas geralmente não são oportunizadas na graduação em Letras. Não posso simplesmente me voltar pra meu próprio umbigo e reclamar da prática de meus colegas de disciplina sem dar minha cota de contribuição. Ano passado propus um curso de capacitação de professores de LI. Um dos depoimentos, de meu colega queridíssimo Joaquim, afirma que o último evento que havia reunido teachers da região havia acontecido em 1997.

Eu tenho uma metodologia simples e praticável pra desenvolver. Em sala de aula eu busco sempre atender aos anseios de meus alunos (desenvolver a oralidade) de uma maneira que não exija materiais e recursos que sejam escassos em escolas públicas em geral. Meus jogos utilizam giz/marcador e quadro. No máximo papel colorido e cartolina. Dado o desempenho dos alunos, acho que está dando certo.

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Parece que eu estou envolvida em projetos, afinal.