Ontem eu estava desesperada pra terminar logo as correções de trabalhos e lançamento de notas. Consegui, graças a Deus. Hoje eu decidi que iria ler um pouco de três livros diferentes (The Essential Calvin and Hobbes, Critical Applied Linguistics e Freedom Writers). Mas ao começar pelo último, não deu pra trocar.
Eu já tinha visto o filme 854 vezes num único fim de semana. Então decidi comprar o livro que originou o filme - os diários dos alunos da sala 203. à medida que lia, ia revivendo as emoções do filme, como se ele estivesse todo gravado na minha mente. A cada parágrafo, cada relato de dor e desilusão, eu ia desenvolvendo a vontade de compartilhar a história daqueles alunos com MEUS alunos.
Daí eu lembrei do seguinte: nós trabalhamos muito a oralidade e a produção escrita no semestre passado - nada de leitura. Pode? Não! Lembrei também que alguns alunos meus vieram me sugerir que a gente lesse um livro, "que nem os alunos do professor Henrique" (que vai rir um bocado se um dia ler isto).
(pausa para explicações)
Eu não uso para-didáticos. Eu tenho HORROR a paradidáticos. Não suporto textos forjados para fins didáticos. Pra mim, o texto autêntico é polifônico; o adaptado é monofônico; o forjado é AFÔNICO. É uma questão política pra mim. Como assim eu vou ensinar meus alunos a lerem textos que não existem? Como é que se aprende a ler criticamente o mundo real se na escola só se lê o mundo de mentirinha? Inclusive, já que falei em Henrique, ele foi o único colega que conseguiu despertar algum respeito pelos para-didáticos. Hoje eu não torço tanto o nariz pra eles, mas continuo firme no meu desafio de usar apenas manifestações concretas de linguagem nas minhas aulas.
(play!)
Então eu uni os pontinhos: os diários dos Freedom Writers não apenas são reais - eles são contemporâneos, divididos em trechos curtos (as entries), foram escritos por adolescentes de ensino médio que enfrentam problemas sérios relacionados a preconceito e valores - como muitos dos meus alunos! Tchã-rãããã!
Seria legal ler o livro inteiro, embora eu não faça idéia de como operacionalizar isso. Acho interessante começar pelo filme, pra estabelecer um vínculo afetivo bacana e tornar a leitura significativa.
Percebam: ontem eu estava louca pra me livrar do trabalho. Hoje eu já estou, novamente, trabalhando. Sonhando ainda, mas já trabalhando.
Sugestões de plano de aula, pessoal?