11.9.10

Cretinice level 10

Um dia destes eu dei de cara com este tweet.


Esse micropost despertou em mim uma sensação de ultraje perturbadora. Basicamente todos os preconceitos contra os quais luto em minha vida profissional/acadêmica aparecem nele. Aliás, não simplesmente aparecem - o motivam e alimentam.

Vamos começar pelo básico, shall we? Preconceito Linguístico 101: o Twitter é em inglês; o Twitter é bacana; o Twitter continuaria sendo bacana se fosse em Português? Não da mesma forma, claro. Afinal, tudo que é em Língua Inglesa, a língua dos escolhidos, a língua dos cultos, dos bem educados, dos loiros de olhos azuis, das grandes empresas multinacionais, a língua mundial já atingiu o nível máximo de prestígio. Pra que rebaixá-lo ao status do Orkut, esse monstro democrático desprovido de glamour?

Próximo: além de perder a graça, o Twitter em português passaria a ser acessível a QUALQUER BRASILEIRO! o.O Até os índios! Até os matutos! Não, muito pior: ATÉ OS POBRES! Quem quer isso? Que ser humano desalmado e psicopata desejaria democratizar o acesso a uma ferramenta crescente e poderosa de comunicação e estabelecimento de vínculos?

Mais um (sem ironias agora): esse discurso exclusivista de que as coisas boas devem permanecer na mão de quem estudou inglês (leia-se tem grana e domínio de elementos importantes da cultura dominante para/por ter feito um curso livre) me deixa profundamente triste e zangada ao mesmo tempo. Principalmente porque apesar do tuiteiro em questão (parecer) ser um adolescente, tal discurso está presente constantemente no meio docente. Professores de inglês Brasil afora acreditam sinceramente que a língua que eles ensinam é como a Matrix: apenas aqueles poucos seres especiais (que fazem curso livre ou são auto-didatas) merecem a graça de aprendê-la efetivamente. Quanto aos demais, bem, "eles não falam ne português, quanto mais inglês", né mermo?

É triste. Mas eu não me rendo! Meus alunos todos terão oportunidade de discutir esse tweet em sala de aula e de se posicionarem a respeito. Eles podem até concordar, mas será por escolha clara e consciente, não aquela concordância movida pelo senso comum.

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