29.1.11

"Credo educacional" ou "Obrigada, Miguel, por resgatar meu sonho"

“Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” (Provérbios 4.18)

Ontem eu recebi uma injeção de esperança.

De todos os momentos brilhantes do encontro de Nicolelis com os blogueiros sujos, um em particular ecoa até agora na minha mente: Miguel denunciou o utilitarismo educacional e uma de suas consequências nefastas, a morte da utopia, a morte do sonho.

Como cristã, sei que não sou perfeita e nunca serei. Usando as palavras lindas de Tom Fernandes, sou apenas uma palhaça no picadeiro da vida, contando com o riso solidário do criador quando me meto em encrenca. Apenas uma cristã diletante. Mas também a minha fé me ensinou que mesmo que eu nunca seja perfeita, eu tenho que continuar tentando.

Levo isso pra todos os aspectos da minha vida, em alguns com maior sucesso, em outros com menor, em outros ainda com um total e completo fracasso. Mas continuo tentando. Na minha sala de aula e nos meus estudos eu assumo posturas que somente uma professora sonhadora assumiria. Eu tenho que fazê-lo. Quantos teachers vocês conhecem que se dispuseram a (tentar, pelo menos) trabalhar a oralidade em salas de aulas de 40 meninos e meninas quando uns 30 afirmavam nunca terem aprendido nada de inglês na vida - e contando apenas com 2 aulas por semana? E esse desafio quem propôs não fui eu: ELES decidiram o que queriam aprender. Quantos teachers vocês conhecem que, mesmo tendo tantas dúvidas, mesmo cheios de incertezas, mesmo em busca ainda de respostas pra mais perguntas do que eu posso lembrar agora, resolveram juntar um monte de outros teachers (muitos cheios de dúvidas, outros com muitas certezas) pra que se eduquem uns aos outros? QUANTOS TEACHERS VOCÊS CONHECEM QUE BUSCAM SOLUÇÕES PARA SUA PRÁTICA DE SALA DE AULA NA EDUCAÇÃO LIBERTADORA, NA LINGUÍSTICA APLICADA CRÍTICA E NO ANARQUISMO, FOR CRYING OUT LOUD? Diga se isso não é coisa de gente doida sonhadora!

Houve coisas importantes que deixei de fazer em 2010 por falta de utopia. Por falta de esperança. Não quero deixar isso acontecer em 2011. Quero ser a professora mais engajada, esperançosa e apaixonada que meus alunos já tiveram na vida - ainda que de uma disciplina relegada à categoria de "submatéria", tratada como apolítica e mecanicista.

Minhas dúvidas persistem. É difícil caminhar cheia de dúvidas assim. Mas eu tenho esperança. Creio na utopia de uma educação tão plena que seus sujeitos sabem exatamente quais seus direitos e deveres, a ponto de não precisarem delegar autoridade. Acredito na utopia da autonomia absoluta do sujeito.

Eu creio.

EU CREIO!

E por isso, busco.

28.1.11

Coisas que não pude dizer a Miguel Nicolelis

Pois bem: monitorando as perguntas via web e a qualidade da conexão, eu quis dizer algumas coisas a Miguel hoje. Maaaas, muita gente, pouco tempo e o fato de que eu era da organização e quem é da organização sempre é preterido (#mimimi), não tive a palavra. Ou, como disse uma tradutora de Fairclough, não me foi dado o "piso" (?). Ossos do ofício, tudo bem.

Seguem minhas intervenções frustradas, na esperança de que alguém (quem sabe o próprio Miguel?) interaja comigo.

  • Pesquisa tradicional X pesquisa como princípio educativo (atrelada à prática de sala de aula) – elas podem conviver bem? É possível fugir da hierarquização política do conhecimento?
  • Muitíssimo interessante a reflexão sobre a relação entre a visão utilitarista da educação e a morte da utopia, a morte do sonho. Como reverter esse processo?
  • Tradicionalmente, a idéia da neutralidade do conhecimento científico dita que o cientista descreva o mundo mas não emita juízo de valor nem intervenha nele. De onde vem sua atitude transgressora dessa tradição?
  • Queria saber como o trabalho de sua mãe influenciou sua visão de mundo - especialmente a acadêmica. Comenta um pouco?
  • Como você percebe o papel do IFRN na interiorização da produção científica - levando em conta as diferenças entre um instituto e uma universidade? Quais vantagens daquele sobre esta podem ser aproveitadas, se é que há alguma?
  • Comentário sobre o ensino técnico: ele surge como ferramenta para “assistir aos desvalidos da sorte”, torna-se no decorrer de sua história uma “fábrica de peças pra reposição” e assim permanece para muitos; mas a realidade hoje se mostra bem diferente. Egressos do técnico integrado geralmente prosseguem nos estudos em diversas áreas, independente da formação técnica – mas carregam a formação profissional crítica e reflexiva.

A meus futuros ex-alunos

Hoje eu quero conversar com vocês sobre duas frases lindas. A primeira é: “Então pintei de azul os meus sapatos por não poder de azul pintar as ruas; depois vesti meus gestos insensatos e colori as minhas mãos e as tuas.” Esses são versos do poeta Carlos Pena Filho. A segunda frase é a seguinte: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” e é do apóstolo Paulo e uma de suas muitas cartas.

Quase 2000 anos separam os autores dessas frases, mas elas tem muito em comum. No poema, o eu-lírico olha ao redor e percebe um mundo que precisa de cor. Um mundo cinza. Um mundo feio. Ele sabe que não pode pintar as ruas inteiras, mas decide não ficar omisso: ele pinta seus próprios sapatos pra que um pouco de azul fique por onde ele andar. E mais: pinta as próprias mãos para colorir as mãos de quem ele encontrar.

Paulo é mais direto: não vos conformeis com este mundo. Não assumam a forma desse mundo. Não se encaixem simplesmente nesse mundo cinza e injusto. Se transformem pela renovação das suas mentes, pela reflexão, pelo estudo, pela crítica. Vocês não são quaisquer formandos. Vocês são PROFISSIONAIS. E não são quaisquer profissionais: são profissionais com uma formação CRÍTICA, para perceber o mundo; REFLEXIVA pra pensar sobre o mundo; e TRANSFORMADORA, pra AGIR SOBRE O MUNDO. Lembrem sempre disso, por onde vocês andarem.

Tenho muito orgulho de vocês. Espero sinceramente que eu tenha deixado pelo menos um pouquinho de azul mas mãos e nos sorrisos de cada um de vocês. E lembrem: nosso mundo pode ser cinza – mas nós não precisamos ser. Um beijo, parabéns e PINTEM O MUNDO!

Com todo o carinho do mundo,

Tia Pri

26.1.11

Alguém duvida?


Um fato muito incômodo aqui.

24.1.11

Iconoclastia pouca é bobagem

Porque como diz Tom, "a verdadeira iconoclastia é autossacrificial - destruir as próprias imagens".

Vandalismo (Augusto dos Anjos)

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

BlogProgRN - release do aquecimento

O Movimento de Blogueiros Progressistas do RN receberá o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis na próxima sexta-feira, 28 de janeiro.  Nicolelis, recém-chegado ao twitter e cientista bastante engajado em causas sociais, falará sobre o tema "Redes sociais, participação política e desenvolvimento da ciência".  Mediado pelo jornalista Sérgio Vilar, o evento começará às 20 h, no auditório da livraria Siciliano.

Para debater com Nicolelis, o professor José Luiz Goldfarb, da PUC-SP, também participará do evento através de videoconferência pela Internet.  Além disso, todo seminário, que terá duração de duas horas, será transmitido via twitcam, através do perfil @blogprogRN.

Miguel Nicolelis é médico com doutorado em Ciências (Fisiologia Geral) pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor titular do Departamento de Neurobiologia e Co-Diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University (EUA), professor do Instituto Cérebro e Mente da Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça) e Diretor Científico do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS). Nicolelis é considerado um dos maiores pesquisadores do planeta na área de neurociências e, por diversas vezes, lembrado para o Prêmio Nobel. Ele lidera pesquisas que podem, por exemplo, representar avanços históricos no tratamento do Mal de Parkinson.

Já o professor José Luiz Goldfarb é graduado em Física pela USP, mestre em Filosofia e História da Ciência (McGill University, Canadá) e doutor em História da Ciência pela Universidade de São Paulo.  Atualmente é professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, vice-coordenador do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência.  Além disso, coordena o Twitter da PUC/SP e é presidente da Cátedra de Cultura Judaica da Universidade. É também coordenador de diversos programas de incentivo à leitura, como o "São Paulo: um Estado de Leitores", da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, além de ser curador do Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.

Blogueiros Progressistas

O movimento dos blogueiros progressistas reúne blogueiros e tuiteiros de todo país que se reconhecem a partir de seus ideais humanistas em busca de produzir uma comunicação compartilhada, democrática e autônoma, tendo nascido a partir da articulação do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé.

O seu primeiro encontro nacional reuniu mais de 300 blogueiros, tuiteiros, ativistas e curiosos em São Paulo, nos dias 20, 21 e 22 de agosto de 2010.  Os blogueiros progressistas do RN estão organizando o seu I Encontro Estadual para o período de 25 a 27 de março de 2011.

SERVIÇO

Redes sociais, participação política e desenvolvimento da ciência
Com prof. Miguel Nicolelis. Participação do prof. José Luiz Goldfarb e mediação do jornalista Sérgio Vilar.

Data: 28/01/2011
Local: Auditório da Livraria Siciliano (Midway Mall, em Natal/RN)
Horário: 20h local (21h de Brasília)
Outras informações: (84) 8719 1700

16.1.11

Notas de estudo - sociologia rural e o "desencantamento do mundo" de Max Weber

No MSN:
Daniel Dantas diz
E o que Max Weber aponta para a sociologia rural?
Pri Aliança disse (15:38)
o desencantamento do mundo foi abraçado pela nascente sociologia rural
que encarava como "elementos mágicos" o conhecimento popular das populações rurais
Pri Aliança disse (15:39)
a sociologia rural estava comprometida com esse processo de desmagicização
e com a modernização do campo a todo custo, por encarar as populações rurais como ilhas de primitivismo
Pri Aliança disse (15:40)
daí ela não se posicionou com isenção, mas com um juízo de valor desfavorável às PRs. Sociólogos rurais agiam em favor do agrícola, não com o rural
Pri Aliança disse (15:41)
os prejuízos, como afirmei, são indizíveis
muito conhecimento foi perdido
Pri Aliança disse (15:42)
e todos sabemos qual o resultado primordial da "modernização" forçada do campo, imposta principalmente nos anos 70 com a revolução verde
êxodo rural
manejo irresponsável de recursos naturais
miséria
desagregação de famílias e comunidades
Pri Aliança disse (15:43)
opressão
uma merda

11.1.11

Aluno na área (2)

Hoje é dia de Luís Tertulino, meu futuro aluno e eterno secretário para assuntos aleatórios.
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Um dia desses eu achei um artigo na internet que começava falando sobre os problemas de dislexia e TDAH que o músico Ozzy Osbourne enfrentou na escola. O artigo claro que não tratou especificamente disso: usou esse fato como pontapé inicial para falar sobre como os professores/educadores tratam e devem tratar seus alunos/educandos com problemas de aprendizagem e de raciocínio. Obviamente, o artigo me incitou a escrever sobre o assunto.

Milhares de pessoas no mundo inteiro passam por esse mesmo problema, e qual a atitude tomada por muitos dos professores? Considerar esses alunos como incapazes de adquirir qualquer conhecimento que seja. Em suma, “burros”. Não são apenas os professores. Os outros alunos também vêem o colega dessa mesma maneira. E quem sofre desse distúrbio em algum momento acaba se convencendo disso; e assim como Ozzy, passam a considerar o ambiente escolar um verdadeiro “inferno”, e portanto abominam esse lugar.

O problema é que os professores – ou pelo menos muitos deles – esperam que todos os alunos de sua(s) sala(s) de aula aprendam da mesma maneira, na mesma velocidade e no mesmo espaço de tempo, e sabemos muito bem que as coisas não funcionam dessa forma. Mesmo os alunos ditos “normais” possuem certas particularidades quando o assunto é aprender, que como o próprio nome diz, devem ser tratadas de forma particular, e não em meio a grupo de aproximadamente 30 pessoas.

Um bom exemplo é o ensino de LI (Língua Inglesa). Cada aluno tem sua própria maneira de filtrar o idioma. Alguns podem, por exemplo, frequentar os famosos cursos de idiomas, outros podem ser autodidatas, outros podem ter mais contato com o inglês; e ao contrário, alguns podem não ter acesso a nada disso, sendo então dependentes da obrigatoriedade do ensino de Li no Brasil (que como todos nós sabemos muito bem, nem sempre é de boa qualidade – assim como a educação como um todo). Aí tudo piora de vez, pois, além dos alunos terem uma visão “mecanizada” do inglês, eles são, de certa forma, “marginalizados”, onde suas dificuldades com são quase que totalmente esquecidas. Digo isso por experiência própria, onde, da mesma maneira que muitos amigos meus, ficamos presos a ideia do verbo “Tobby” – é alarmante estudar por quatro anos a mesma coisa.

Então, é vitalmente necessário que o professor dê atenção a cada aluno especificamente, o que não quer dizer que o primeiro vai “segurar na mão” do segundo, mas coisas como estar aberto a detalhes como falta de atenção/concentração dos alunos. Coisas como essas podem fazer (e farão) toda a diferença no processo de educação e tornarão a escola uma vivência menos traumática para os alunos.
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Luís Tertulino é dono do Filosofia da Censura, bolsista de iniciação ao trabalho (a escola não funciona sem ele), fã do bom e velho rock'n'roll  e tá morrendo de medo de ser meu aluno em 2011!

7.1.11

Aluno na área (1)

Texto lindo de Nayara "Pomp" Xavier! Coisa linda da teacher!

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Há um tempo ouço falar da tal prática educacional libertária e revolucionária. No início não foi muito simples entender. Até porque, dependendo de quem ouvir isso será natural que pense: “Ah! Se eu for libertário com meus alunos eles farão o que bem entenderem comigo. Se eu for revolucionário eles me odiarão.” Creia, há pessoas que pensarão assim. A questão é que tenho provas, eu sou o testemunho, da ação de professores com essa visão libertária e revolucionária. Agradeço.

Estamos contidos em uma alienante idéia de que a educação somente dará um passo largo quando houver mais investimento nessa. Seria ótimo se houvesse mais investimentos, mas não há. Então por que não investir nas mais diversas formas de educar? Como diria o mestre Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes.” VOCÊ professor, se não consegue progresso de um jeito, tente de outro.

O ensino de língua inglesa nas escolas públicas sempre foi muito frustrante, pelo menos até meu ensino médio. Um peso enorme. Por mais que estudasse eu ficava sempre distante da disciplina. Ler um livro SOBRE inglês é irritante se você está no ensino fundamental e não sabe absolutamente nada, e está ali para aprender. Entende? TUDO escrito em inglês e você parece ‘nadar’ para lugar nenhum. Além, claro, da dificuldade de pronúncia na qual você não tem a mínima idéia de como seja sem orientação auditiva. Tanta imaginação para ser utilizada, e você utiliza só livro didático? Olha só, existe música, textos para traduzir, brincadeiras, que te ajudam a por em prática seu LINDO papel de professor – de LI principalmente. Tenho a prova disso em sala, no IFRN – Ipanguaçu.

“Liberdade educacional”, quando você conseguir/praticar a sua, poderá passar para seu aluno. Ou opte pela ditadura em sala e dará as mãos à educação de péssima qualidade (que já não é novidade). Traduza o seu encontro com um aluno intrigado, abrindo as portas para valores de educação direcionados a ele – para que só então ele se transforme em um aluno envolvido. Se o professor não se molda ao aluno; no que ele ouve e no que lê, por exemplo, estará jogando uma grande parcela do seu conhecimento fora, não sendo compreendido. Já, quando o professor consegue se moldar ao comportamento do aluno e consegue, então, compreender o seu lado, obtendo respeito dele, claro; OS DOIS terão as suas metas alcançadas.

Ser leve e compreensivo não significa, necessariamente, ser DOMADO pelo aluno. Falo com mérito de aluna, porque sei como acontece e do que é preciso “no lado de cá”.

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Nayara é dona do Com Paixão, acaba de se tornar concluinte do curso técnico integrado em Agroecologia e é cheia de sonhos e sorrisos.

6.1.11

MonoLog - trechos (1)

Algumas partes da minha monografia que eu gostaria de socializar!

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Muitas vezes, ao nos depararmos com textos monográficos voltados para o ensino de LI, temos em mãos textos que exploram questões relacionadas à estrutura lingüística ou à aplicação de métodos e técnicas de ensino que não privilegiam a reflexão e o questionamento do papel político do professor de LI ou do próprio ensino de LI nas escolas brasileiras. Assumindo que não existe educação neutra, o professor de LI tem, necessariamente, um posicionamento ideológico (a favor de alguma coisa e contra outra coisa). O que percebemos ao longo de nossa trajetória profissional e acadêmica é que em geral esses professores sequer consideram que esse  posicionamento exista. Sem percepção de nosso papel e nossa importância, seguimos enfrentando discursos que refletem a desvalorização comumente direcionada à disciplina em questão – sem conseguir dar à comunidade escolar respostas satisfatórias ou mesmo uma prática eficiente.

(...)


Essencialmente popular (às margens da sociedade, da prática à teoria) este segundo momento se caracteriza por uma natureza contrária, elitista (do centro (universidades) em direção à periferia , teorizada (p. 4). Talvez por isso, por passar a ter um movimento também de cima para baixo, tantos educadores passem pelos bancos das universidades sem conseguirem efetivamente compreender o sentido da obra de Paulo Freire, vendo nela uma espécie de utopia mentirosa, de beleza fajuta. Afinal, se o caminho para a liberdade é a própria liberdade (como afirmava o ideário educacional anarquista), uma prática educativa libertadora não pode acontecer em meio à teorização, à redação de ensaios e resumos de leitura para fins de obtenção de nota. Professores reproduzem em suas salas de aula aquilo que vivenciaram em suas experiências de formação profissional. Como podemos exigir que um professor adote o diálogo como método primordial de ensino quando a seus próprios formadores (intelectuais, mestres, doutores) não dialogavam com aquele então graduando de igual para igual? Como esperar que um graduando em Letras faça, sozinho, sem ajuda, sem diálogo com um mediador, a ponte entre os princípios da pedagogia crítica e seu plano de aula de LI?
Destaco aquilo dilema em que se vê preso o professor de LI não apenas pela natureza desta pesquisa, mas também porque como as idéias de Freire se dirigiam majoritariamente à alfabetização, foi mais profícua a produção de conhecimento acerca do ensino de Língua Materna quando a pedagogia crítica ressurgiu do exílio. Quanto mais esta pedagogia constituía o centro das discussões acadêmicas, mas à margem destas os professores de LI se viam.