3.3.11

Colorindo minhas mãos e as tuas

Esta primeira semana de sala de aula tem me deixado bastante satisfeita. Não que tudo tenha dado certo - LOOOONGE DISSO - mas tive a oportunidade de perceber algo que é precioso a qualquer educador: transformação no discurso de seus alunos.

Preparei uma atividade de aquecimento que decidi utilizar nos 2os anos que foram meus ano passado, no 3o que nunca foi meu e com as turmas calouras de PROEJA. Ela envolve pouca LI, algum conhecimento de história e muita, muita reflexão.

A atividade começa assim: aviso aos alunos que eles vão receber a letra de Brasil com S com as estrofes fora de ordem. Eles precisam, sem ouvir a música, tentar descobrir a sequência correta. A idéia é que eles recorram ao próprio conhecimento de mundo pra reconhecerem as referências históricas contidas na letra e usá-las pra definir uma ordem - cronologicamente. Dentro de cada estrofe os versos também estão fora de ordem, mas eu não sugiro uma estratégia específica pro unscrambling - deixo-os à vontade pra usarem o critério que quiserem.

Após o unscrambling, coloco a música pra tocar pra que eles confiram se fizeram as mesmas opções do autor. Curioso perceber que eles estabelecem muito rapidamente que o refrão vem ao final de cada estrofe e que, mesmo sem ter muita clareza dos critérios que usam, acertam sempre a ordem das estrofes e quase sempre a ordem dos versos. Peço que eles me falem sobre as estratégias que eles usaram, como chegaram a esta ou aquela sequência e deixo sempre bem claro que eu estou preocupada com essas estratégias, não com o acerto/erro (e é verdade, viu?). Ponho a música pra tocar e eles conferem.

A emoção começa aqui. A idéia é levá-los a refletir sobre a importância da grafia de um nome para a sustentação da identidade que esse nome carrega. Brasil escrito com Z não é literalmente a preocupação do eu-lírico, mas preocupa-o a noção de que a identidade do BraSil seja aos poucos preterida em favor da identidade de um BraZil.

Achei bem interessante perceber a diferença entre discurso dos alunos calouros (adultos) e o discurso dos veteranos. O discurso inicial dos calouros estava permeado da ilusão de neutralidade que o ensino de LI tanto prega hoje: "inglês é a língua universal"; "a língua mais falada"; "o nome BraZil é mais 'aceitável' lá fora". Pareceu mesmo que eles tinham aprendido ao longo de sua vida escolar que é isso que o professor de LI gosta de ouvir (Ira Shor comenta esse comprtamento em Medo e Ousadia). Até o tom deles era meio "professoral", sabe? Já os veteranos apresentaram um discurso avesso. As marcas de neutralidade - quando houve - foram escassas e rápidas. Termos como "dominação", "língua dominante", "relação de poder" e "valorizar a identidade brasileira" estabeleceram a tônica da discussão.

Esses mesmos veteranos, quando calouros,  tinha o mesmo posicionamento dos hoje calouros. E eu posso deitar a cabeça no travesseiro hoje tranquila, sabendo que pelo menos alguma coisa eu estou fazendo direito.

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