17.3.11

O dia em que meus alunos citaram Foucault

Lembram da reflexão sobre marcas de estrangeirização que meus alunos fizeram? Em algumas turmas, a aula seguinte teve um momento com "Estrangeirismo". Pedi então aos alunos que, à semelhança do eu-lírico nesta canção, fizessem um exercício de observação e registro do espaço em que viviam (fosse urbano ou rural). Eles deveriam coletar marcas de estrangeirização em suas próprias cidades/comunidades. Depois se organizariam em grupos por cidade e apresentariam os dados coletados. Ao fim da apresentação, deveriam apresentar à turma uma conclusão baseada na observação.

Hoje, na turma deste cidadão, as apresentações foram excelentes. Os alunos, em geral, fotografaram as marcas e pudemos todos visualizar cada uma delas com bastante concretude. Perceberam a relação entre o "tamanho" da cidade e a presença das marcas de estrangeirização - quanto maior, mais economicamente desenvolvida a cidade, mais marcas se apresentam. Mas eu quero chamar atenção para algumas das conclusões a que os grupos chegaram:

  1. um grupo afirmou que a escolha por um termo estrangeiro ou estrangeirizado não era meramente linguística: havia um componente ideológico por trás, uma relação de poder;
  2. de acordo com outro, a presença dessas marcas compõe um traço discursivo, uma forma de se posicionar em relação à cultura alheia (de acordo com FOUCAULT - DÁ PRA CRER?!)
  3. um outro grupo recorreu a uma fala atribuída a Nelson Rodrigues:
"O Brasil sofre de um complexo de vira-lata. Como um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem."
Hoje eu me perguntei se esses meninos são realmente alunos de Ensino Médio.

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