11.1.12

O professor, esse palhaço

Acabo de ler uma reportagem da Veja Rio, publicada e 1999, que um colega trouxe xerografada. Era uma reportagem sobre professores que "se viram nos trinta" pra conseguirem fazer o básico: seu trabalho. Os salários baixos, a carga horária de até 70h/aula semanais e o desgaste físico e mental são mencionados. Mas o tom de Mônica Weinberg, a repórter, não me pareceu adequado ao que se dizia. As condições retratadas são terríveis - mas os professores eram retratados não como guerreiros, mas como atores e atrizes apaixonados, artistas num palco perverso. Ou palhaços. Os alunos não são cidadãos em formação, em cujas mãos pode estar a esperança de dias mais justos - são a plateia. "Sucesso de público" é o que os professores entrevistados conseguem se tornar. Nossa realidade é retratada como uma anedota destinada a divertir pessoas que não precisam ser ensinadas por esses professores. Né? Pessoas que podem pagar escolas que remunerem decentemente seus professores de modo que eles não precisem trabalhar 70h/aula por semana? Tô exagerando?

O meu colega, que trouxe a matéria, foi um dos entrevistados. Ele chegou a ministrar 85 aulas por semana pra poder comprar sua casa própria. Ele desenvolveu diabetes nessa época, pela falta de qualidade na alimentação - e ele tinha lá tempo de comer direito?

A diabetes dele não apareceu na matéria.

UPDATE: o referido colega comentou comigo há pouco que descobriu a diabete depois da matéria.

Nenhum comentário: