27.2.13

Escrito 1


"Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo."
Paulo Freire

Pode um formador, ao formar outros, não formar-se?
Ao longo de nove meses estive envolvida com o Teachers Learning Center, um projeto de extensão que visava à formação continuada de professores de Língua Inglesa da rede pública. Os dois primeiros meses foram de preparação. Os sete últimos constituíram o curso em si.
A formação dos cursistas foi concebida para acontecer em duas frentes: numa delas, a heteroformação – saberes e conhecimentos pertinentes ao ensino crítico de Língua Inglesa; noções de língua e aprendizagem; o jogo, a prática da oralidade, a produção escrita. Na outra, a autoformação por meio da escrita de si e da narrativa de formação. Paralelamente aos encontros, os cursistas deveriam redigir um diário onde registrassem dúvidas, anseios, descobertas, eventos que considerassem relevantes, reflexões sobre seu fazer pedagógico e sobre suas aprendizagens no curso.
Este projeto de extensão estava ligado diretamente a um projeto de pesquisa (iniciação científica) que eu orientei. As bolsistas-pesquisadoras (alunas do curso técnico de nível médio em Redes de Computadores) lançariam mão da abordagem biográfica para analisar o itinerário formativo de determinados professores cursistas. Assim como foi pensada a formação dos cursistas no projeto de extensão, foi igualmente pensada a formação das pesquisadoras no projeto de pesquisa.
Assim, tornando-me responsável pela condução de processos formativos distintos (o dos cursistas e o das pesquisadoras) ao longo de ambos os projetos, vi-me também diante de dois processos autoformativos distintos: o primeiro, como formadora de formadores; o segundo, como pesquisadora orientadora de iniciação científica.
Minha suspeita é a de que nossos caminhos de autoformação – os meus, os dos cursistas, os das bolsistas – se entrecruzam mais intimamente do que na superficialidade espaço-temporal. Penso que haja experiências formadoras e momentos charneira de uns e de outros atores bastante ligados ao exercício de interlocução próprio do desenvolvimento de ambos os projetos. Minhas experiências formadoras ao longo dos projetos se deram em meio à interação com (a) os conteúdos do curso e as leituras da pesquisa, (b) os interlocutores com quem trabalhei mais frequentemente (equipe pedagógica da escola, bolsistas) e (c) os cursistas, tanto nos encontros quanto por meio da leitura dos diários.
Reporto-me agora à narrativa dos professores de inglês. Considere-se, pois, o par formadora-cursistas. Haverá, em seus escritos, indícios de experiências formadoras? Havendo, teriam elas relação com momentos de interação comigo? Em que medida minhas experiências formadoras se relacionam às deles? Qual o grau de mutualidade em nossos percursos formativos ao longo do curso? Como a ligação e a partilha colaboraram para nossa (auto)formação?