"Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si
mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo."
Paulo Freire
Pode um formador, ao formar
outros, não formar-se?
Ao longo de nove meses estive
envolvida com o Teachers Learning Center, um projeto de extensão que visava à
formação continuada de professores de Língua Inglesa da rede pública. Os dois
primeiros meses foram de preparação. Os sete últimos constituíram o curso em
si.
A formação dos cursistas foi
concebida para acontecer em duas frentes: numa delas, a heteroformação –
saberes e conhecimentos pertinentes ao ensino crítico de Língua Inglesa; noções
de língua e aprendizagem; o jogo, a prática da oralidade, a produção escrita.
Na outra, a autoformação por meio da escrita de si e da narrativa de formação. Paralelamente
aos encontros, os cursistas deveriam redigir um diário onde registrassem dúvidas,
anseios, descobertas, eventos que considerassem relevantes, reflexões sobre seu
fazer pedagógico e sobre suas aprendizagens no curso.
Este projeto de extensão estava
ligado diretamente a um projeto de pesquisa (iniciação científica) que eu orientei.
As bolsistas-pesquisadoras (alunas do curso técnico de nível médio em Redes de
Computadores) lançariam mão da abordagem biográfica para analisar o itinerário
formativo de determinados professores cursistas. Assim como foi pensada a
formação dos cursistas no projeto de extensão, foi igualmente pensada a
formação das pesquisadoras no projeto de pesquisa.
Assim, tornando-me responsável
pela condução de processos formativos distintos (o dos cursistas e o das
pesquisadoras) ao longo de ambos os projetos, vi-me também diante de dois
processos autoformativos distintos: o
primeiro, como formadora de formadores; o segundo, como pesquisadora
orientadora de iniciação científica.
Minha suspeita é a de que nossos
caminhos de autoformação – os meus, os dos cursistas, os das bolsistas – se entrecruzam
mais intimamente do que na superficialidade espaço-temporal. Penso que haja experiências
formadoras e momentos charneira de uns e de outros atores bastante ligados ao
exercício de interlocução próprio do desenvolvimento de ambos os projetos. Minhas
experiências formadoras ao longo dos projetos se deram em meio à interação com
(a) os conteúdos do curso e as leituras da pesquisa, (b) os interlocutores com
quem trabalhei mais frequentemente (equipe pedagógica da escola, bolsistas) e
(c) os cursistas, tanto nos encontros quanto por meio da leitura dos diários.
Reporto-me agora à narrativa dos professores
de inglês. Considere-se, pois, o par formadora-cursistas.
Haverá, em seus escritos, indícios de experiências formadoras? Havendo, teriam
elas relação com momentos de interação comigo? Em que medida minhas
experiências formadoras se relacionam às deles? Qual o grau de mutualidade em
nossos percursos formativos ao longo do curso? Como a ligação e a partilha
colaboraram para nossa (auto)formação?
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