10.5.11

Sobre livros didáticos que recebi pra analisar

Por favor, tenha pena do meu cansaço: leiam de baixo pra cima.

 prialianca 
Porque né, dicionário é obra de referência e o aluno não pode pegar emprestado na biblioteca. E nosso trabalho fica difícil só com o Google.
 prialianca 
Por mim, em vez de solicitarmos livros didáticos, pediríamos dicionários. Da Longman, fazendo o favor. Ou Oxford.
 prialianca 
Gente, nem todo teacher que um livro didático que pense por ele.
 prialianca 
"On Stage" da Ática.
 prialianca 
"Esta obra adota uma visão sociointeracional [...] para o estudo da LI." Experiências de interação/produção propostas: uma página dentre 12.
 prialianca 
Quanta ideologia cabe num título? Olha essa coleção da Lafonte: "Take Over". Traduções >> 
 prialianca 
Esse é o "Freeway", da editora Richmond. Chegou aqui pra gente analisar e decidir se quer adotar ano que vem. Minha posição: NÃO MESMO!
 prialianca 
Q dizer d um livro c/ um texto q termina assim: "Isso mostra a diferença entre a sociedade igualitária dos EUA e a hierárquica brasileira."

4.4.11

"Uma agenda para o medo"

Sinto que vai ter aluno meu surtando com esses vídeos!






26.3.11

Aos meus meninos

Eu ia escrever um post inteiro sobre o Seminário de Iniciação Científica que aconteceu sexta passada lá na escola, mas neste post Tertulino me poupou o trabalho. Ele disse muitas coisas que eu diria. Valeu, Tertu. Você sempre facilita a minha vida.

Pra mim, como coordenadora de pesquisa da escola, ver aflorar a formação científica - crítico-reflexiva - de meus meninos me proporciona um êxtase sem tamanho. Eu fico imensamente feliz. Eu incho de orgulho. Desde as menores coisas - como Edyellen, que fez sua primeira apresentação (há menos de um ano) parecendo um boneco de posto de gasolina e que, sexta, foi profissional, centrada e segurésima sobre o tratamento dado aos resíduos sólidos dos consultórios odontológicos do instituto. Como Kenned, que começou também tímido e inseguro ano passado - e que sexta era a coisa mais linda, todo encantado e seguro de sua pesquisa em geoprocessamento. Como Adria, debatendo questões metodológicas com um profe super cricri com serenidade e honestidade. Ou Êmmila, Dani e Pedro, que souberam do SIC e desejaram tanto participar que saíram à caça de um orientador - e desenvolveram um MEGAPROJETO que trará benefícios pra educação da rede pública do Vale do Assu inteiro (CARACA!). Leandro, com suas reflexões sobre Saramago e Romano de Sant'Anna; Nayara e Ondjaki, Ítalo e Marcelino Freire, Mariana e sua lagarta-do-cartucho, Caíque e sua mancha aquosa, Jailma e João e seus experimentos com reaproveitamento de óleo de cozinha. Nossa, a lista é enorme.

Meus meninos.

Lembro como se fosse hoje de abril de 2009, quando assumi a pesquisa. Foi um ano de muitos desafios: estruturar um setor inteiro, recém-criado. Os alunos veteranos sequer conheciam os eventos científicos do instituto. Nunca haviam ouvido falar em edital ou em bolsa de IC. Aliás, nem se sabia o que danado era IC. A divulgação dos editais internos era tão precária que - pasmem - SOBRARAM BOLSAS. Meus meninos não faziam ideia do que fosse um artigo científico e acreditavam que pesquisa era o ctrl + c, ctrl + v direto da Wikipedia.

Os problemas foram inúmeros e, pra minha alegria, não enfrentei nenhum deles sozinha. Tive o apoio e a compreensão fundamentais tanto da gestão, quanto dos servidores - e, mais importante de todos, o apoio e a compreensão dos... meus meninos. Muita coisa deu errado. Muita MESMO. Mas mesmo com muito dando errado, os resultados sempre apareceram - graças, PRINCIPALMENTE aos... meus meninos. Os meus meninos que não se envergam diante de uma dificuldade. Nem de várias.

Hoje eu saio do cargo sabendo de duas coisas: (1) muito do que eu tinha que fazer eu não dei conta; (2) muito do que tinha que ser feito foi feito. Dois anos depois, meu campus tem alunos engajados em pesquisa desde o primeiro período. Alunos que procuram servidores que os possam orientar; que descobrem datas de inscrição em eventos antes mesmo de mim;  que ficam no nosso pé pra saber quando vai sair o edital pras bolsas de IC; que querem colaborar, mesmo que como voluntários, com projetos de pesquisa pelos quais se apaixonam. Alunos que conhecem sua escola. Conhecem as oportunidades que ela oferece e aproveitam cada uma delas. Conhecem a vida que sua escola leva fora da sala de aula. Esses são os meus meninos.

Sexta-feira foi um momento muito simbólico pra mim. Pude ver que a escola hoje é profundamente diferente do que era quando a coordenação de pesquisa surgiu. Essa é uma vitória da qual me orgulho - mas NUNCA poderia me orgulhar dela sozinha. Nada do que fiz eu fiz só. Essa vitória eu compartilho com cada servidor, cada aluno, cada pesquisador - servidor ou aluno. Parabéns. Este interior pobre do Nordeste não é e nem será o mesmo graças à atuação brilhante de meus meninos. Meus meninos transformam sua realidade.

Parabéns, especialmente, pros meus meninos.

17.3.11

O dia em que meus alunos citaram Foucault

Lembram da reflexão sobre marcas de estrangeirização que meus alunos fizeram? Em algumas turmas, a aula seguinte teve um momento com "Estrangeirismo". Pedi então aos alunos que, à semelhança do eu-lírico nesta canção, fizessem um exercício de observação e registro do espaço em que viviam (fosse urbano ou rural). Eles deveriam coletar marcas de estrangeirização em suas próprias cidades/comunidades. Depois se organizariam em grupos por cidade e apresentariam os dados coletados. Ao fim da apresentação, deveriam apresentar à turma uma conclusão baseada na observação.

Hoje, na turma deste cidadão, as apresentações foram excelentes. Os alunos, em geral, fotografaram as marcas e pudemos todos visualizar cada uma delas com bastante concretude. Perceberam a relação entre o "tamanho" da cidade e a presença das marcas de estrangeirização - quanto maior, mais economicamente desenvolvida a cidade, mais marcas se apresentam. Mas eu quero chamar atenção para algumas das conclusões a que os grupos chegaram:

  1. um grupo afirmou que a escolha por um termo estrangeiro ou estrangeirizado não era meramente linguística: havia um componente ideológico por trás, uma relação de poder;
  2. de acordo com outro, a presença dessas marcas compõe um traço discursivo, uma forma de se posicionar em relação à cultura alheia (de acordo com FOUCAULT - DÁ PRA CRER?!)
  3. um outro grupo recorreu a uma fala atribuída a Nelson Rodrigues:
"O Brasil sofre de um complexo de vira-lata. Como um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem."
Hoje eu me perguntei se esses meninos são realmente alunos de Ensino Médio.

3.3.11

Colorindo minhas mãos e as tuas

Esta primeira semana de sala de aula tem me deixado bastante satisfeita. Não que tudo tenha dado certo - LOOOONGE DISSO - mas tive a oportunidade de perceber algo que é precioso a qualquer educador: transformação no discurso de seus alunos.

Preparei uma atividade de aquecimento que decidi utilizar nos 2os anos que foram meus ano passado, no 3o que nunca foi meu e com as turmas calouras de PROEJA. Ela envolve pouca LI, algum conhecimento de história e muita, muita reflexão.

A atividade começa assim: aviso aos alunos que eles vão receber a letra de Brasil com S com as estrofes fora de ordem. Eles precisam, sem ouvir a música, tentar descobrir a sequência correta. A idéia é que eles recorram ao próprio conhecimento de mundo pra reconhecerem as referências históricas contidas na letra e usá-las pra definir uma ordem - cronologicamente. Dentro de cada estrofe os versos também estão fora de ordem, mas eu não sugiro uma estratégia específica pro unscrambling - deixo-os à vontade pra usarem o critério que quiserem.

Após o unscrambling, coloco a música pra tocar pra que eles confiram se fizeram as mesmas opções do autor. Curioso perceber que eles estabelecem muito rapidamente que o refrão vem ao final de cada estrofe e que, mesmo sem ter muita clareza dos critérios que usam, acertam sempre a ordem das estrofes e quase sempre a ordem dos versos. Peço que eles me falem sobre as estratégias que eles usaram, como chegaram a esta ou aquela sequência e deixo sempre bem claro que eu estou preocupada com essas estratégias, não com o acerto/erro (e é verdade, viu?). Ponho a música pra tocar e eles conferem.

A emoção começa aqui. A idéia é levá-los a refletir sobre a importância da grafia de um nome para a sustentação da identidade que esse nome carrega. Brasil escrito com Z não é literalmente a preocupação do eu-lírico, mas preocupa-o a noção de que a identidade do BraSil seja aos poucos preterida em favor da identidade de um BraZil.

Achei bem interessante perceber a diferença entre discurso dos alunos calouros (adultos) e o discurso dos veteranos. O discurso inicial dos calouros estava permeado da ilusão de neutralidade que o ensino de LI tanto prega hoje: "inglês é a língua universal"; "a língua mais falada"; "o nome BraZil é mais 'aceitável' lá fora". Pareceu mesmo que eles tinham aprendido ao longo de sua vida escolar que é isso que o professor de LI gosta de ouvir (Ira Shor comenta esse comprtamento em Medo e Ousadia). Até o tom deles era meio "professoral", sabe? Já os veteranos apresentaram um discurso avesso. As marcas de neutralidade - quando houve - foram escassas e rápidas. Termos como "dominação", "língua dominante", "relação de poder" e "valorizar a identidade brasileira" estabeleceram a tônica da discussão.

Esses mesmos veteranos, quando calouros,  tinha o mesmo posicionamento dos hoje calouros. E eu posso deitar a cabeça no travesseiro hoje tranquila, sabendo que pelo menos alguma coisa eu estou fazendo direito.

2.3.11

#teacherfail

Eu sou uma professora de Língua Inglesa formada pela Universidade Federal de Pernambuco (referência nacional no curso de Letras), com proficiência certificada com DISTINÇÃO pela Universidade de Londres (nível 4), mais de 10 anos de prática docente e muitas horas de estudo acumuladas - que hoje à tarde não soube soletrar "YES".

¬¬*

27.2.11

Pra que serve a utopia?

"Ela está no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos adiante. Por mais que eu caminhe, nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para caminhar."
(Eduardo Galeano)

By @alissoncal

29.1.11

"Credo educacional" ou "Obrigada, Miguel, por resgatar meu sonho"

“Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” (Provérbios 4.18)

Ontem eu recebi uma injeção de esperança.

De todos os momentos brilhantes do encontro de Nicolelis com os blogueiros sujos, um em particular ecoa até agora na minha mente: Miguel denunciou o utilitarismo educacional e uma de suas consequências nefastas, a morte da utopia, a morte do sonho.

Como cristã, sei que não sou perfeita e nunca serei. Usando as palavras lindas de Tom Fernandes, sou apenas uma palhaça no picadeiro da vida, contando com o riso solidário do criador quando me meto em encrenca. Apenas uma cristã diletante. Mas também a minha fé me ensinou que mesmo que eu nunca seja perfeita, eu tenho que continuar tentando.

Levo isso pra todos os aspectos da minha vida, em alguns com maior sucesso, em outros com menor, em outros ainda com um total e completo fracasso. Mas continuo tentando. Na minha sala de aula e nos meus estudos eu assumo posturas que somente uma professora sonhadora assumiria. Eu tenho que fazê-lo. Quantos teachers vocês conhecem que se dispuseram a (tentar, pelo menos) trabalhar a oralidade em salas de aulas de 40 meninos e meninas quando uns 30 afirmavam nunca terem aprendido nada de inglês na vida - e contando apenas com 2 aulas por semana? E esse desafio quem propôs não fui eu: ELES decidiram o que queriam aprender. Quantos teachers vocês conhecem que, mesmo tendo tantas dúvidas, mesmo cheios de incertezas, mesmo em busca ainda de respostas pra mais perguntas do que eu posso lembrar agora, resolveram juntar um monte de outros teachers (muitos cheios de dúvidas, outros com muitas certezas) pra que se eduquem uns aos outros? QUANTOS TEACHERS VOCÊS CONHECEM QUE BUSCAM SOLUÇÕES PARA SUA PRÁTICA DE SALA DE AULA NA EDUCAÇÃO LIBERTADORA, NA LINGUÍSTICA APLICADA CRÍTICA E NO ANARQUISMO, FOR CRYING OUT LOUD? Diga se isso não é coisa de gente doida sonhadora!

Houve coisas importantes que deixei de fazer em 2010 por falta de utopia. Por falta de esperança. Não quero deixar isso acontecer em 2011. Quero ser a professora mais engajada, esperançosa e apaixonada que meus alunos já tiveram na vida - ainda que de uma disciplina relegada à categoria de "submatéria", tratada como apolítica e mecanicista.

Minhas dúvidas persistem. É difícil caminhar cheia de dúvidas assim. Mas eu tenho esperança. Creio na utopia de uma educação tão plena que seus sujeitos sabem exatamente quais seus direitos e deveres, a ponto de não precisarem delegar autoridade. Acredito na utopia da autonomia absoluta do sujeito.

Eu creio.

EU CREIO!

E por isso, busco.

28.1.11

Coisas que não pude dizer a Miguel Nicolelis

Pois bem: monitorando as perguntas via web e a qualidade da conexão, eu quis dizer algumas coisas a Miguel hoje. Maaaas, muita gente, pouco tempo e o fato de que eu era da organização e quem é da organização sempre é preterido (#mimimi), não tive a palavra. Ou, como disse uma tradutora de Fairclough, não me foi dado o "piso" (?). Ossos do ofício, tudo bem.

Seguem minhas intervenções frustradas, na esperança de que alguém (quem sabe o próprio Miguel?) interaja comigo.

  • Pesquisa tradicional X pesquisa como princípio educativo (atrelada à prática de sala de aula) – elas podem conviver bem? É possível fugir da hierarquização política do conhecimento?
  • Muitíssimo interessante a reflexão sobre a relação entre a visão utilitarista da educação e a morte da utopia, a morte do sonho. Como reverter esse processo?
  • Tradicionalmente, a idéia da neutralidade do conhecimento científico dita que o cientista descreva o mundo mas não emita juízo de valor nem intervenha nele. De onde vem sua atitude transgressora dessa tradição?
  • Queria saber como o trabalho de sua mãe influenciou sua visão de mundo - especialmente a acadêmica. Comenta um pouco?
  • Como você percebe o papel do IFRN na interiorização da produção científica - levando em conta as diferenças entre um instituto e uma universidade? Quais vantagens daquele sobre esta podem ser aproveitadas, se é que há alguma?
  • Comentário sobre o ensino técnico: ele surge como ferramenta para “assistir aos desvalidos da sorte”, torna-se no decorrer de sua história uma “fábrica de peças pra reposição” e assim permanece para muitos; mas a realidade hoje se mostra bem diferente. Egressos do técnico integrado geralmente prosseguem nos estudos em diversas áreas, independente da formação técnica – mas carregam a formação profissional crítica e reflexiva.

A meus futuros ex-alunos

Hoje eu quero conversar com vocês sobre duas frases lindas. A primeira é: “Então pintei de azul os meus sapatos por não poder de azul pintar as ruas; depois vesti meus gestos insensatos e colori as minhas mãos e as tuas.” Esses são versos do poeta Carlos Pena Filho. A segunda frase é a seguinte: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” e é do apóstolo Paulo e uma de suas muitas cartas.

Quase 2000 anos separam os autores dessas frases, mas elas tem muito em comum. No poema, o eu-lírico olha ao redor e percebe um mundo que precisa de cor. Um mundo cinza. Um mundo feio. Ele sabe que não pode pintar as ruas inteiras, mas decide não ficar omisso: ele pinta seus próprios sapatos pra que um pouco de azul fique por onde ele andar. E mais: pinta as próprias mãos para colorir as mãos de quem ele encontrar.

Paulo é mais direto: não vos conformeis com este mundo. Não assumam a forma desse mundo. Não se encaixem simplesmente nesse mundo cinza e injusto. Se transformem pela renovação das suas mentes, pela reflexão, pelo estudo, pela crítica. Vocês não são quaisquer formandos. Vocês são PROFISSIONAIS. E não são quaisquer profissionais: são profissionais com uma formação CRÍTICA, para perceber o mundo; REFLEXIVA pra pensar sobre o mundo; e TRANSFORMADORA, pra AGIR SOBRE O MUNDO. Lembrem sempre disso, por onde vocês andarem.

Tenho muito orgulho de vocês. Espero sinceramente que eu tenha deixado pelo menos um pouquinho de azul mas mãos e nos sorrisos de cada um de vocês. E lembrem: nosso mundo pode ser cinza – mas nós não precisamos ser. Um beijo, parabéns e PINTEM O MUNDO!

Com todo o carinho do mundo,

Tia Pri