30.5.10

Confessionário

Essa semana é época de avaliação. Não do aprendizado de meus alunos meramente, mas de nossa relação e do aproveitamento das aulas em geral. Esta semana é semana de confessionário.

Com uma folha de papel em branco, vou pedir a cada aluno que relate coisas boas e ruins das aulas de LI, pontos altos e dificuldades, virtudes e defeitos da professora. E de si mesmos. Eles poderão fazer uma tabela, uma carta, uma lista, o que preferirem. E poderão manter o anonimato, se quiserem.

Eu vou produzir também o meu próprio confessionário pra cada turma. Vamos todos trabalhar ao mesmo tempo.

O aluno que preferir poderá também abordar questões pessoais, relacionadas ou não ao seu rendimento. É um momento de franca abertura e diálogo e uma oportunidade de deixar os meninos à vontade para escrever contra.

Espero que eu aprenda coisas importantes pra minha prática a partir disso e que minha relação com meus alunos fique ainda melhor.

Depois eu conto como foi.

Colóquio Paulo Freire em Recife

Submissão de trabalhos só até dia 15... corre, Pri! E corra você também!
O VII Colóquio Internacional Paulo Freire acontecerá de 16 a 19 de Setembro de 2010, no Campus da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. O evento é promovido pelo Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas em parceria com a UFPE, a Farias & Denton e outras Instituições. 

Olha o link aqui.

OMG so cute!

Estas são as tirinhas que pretendo usar em sala de aula no próximo mês. Vou poder ver a criatividade de meus aluninhos em cena mais uma vez!

22.5.10

(contra)Currículo

Eis o conteúdo do primeiro bimestre de minhas turmas de 1o ano. Quemquiser comentar, fique à vontade!

* Perguntar ao outro e falar de si a respeito de:
- nome
- cidade de origem
- idade
- estado civil
- profissão
- coisas que gosta
- coisas que não gosta
- coisas que ama
- coisas que odeia
- coisas/pessoas favoritas

* Vocabulário
- números de 14 a 25
- profissões
- tipos de comida
- tipos de programas de TV
- tipos de filmes
- tipos de música
- esportes

* Aspectos políticos do estudo de inglês como língua estrangeira

*Conversação
- como fazer uma inscrição em um curso

O profressor frustrado

Ao longo do TTC os participantes aprendemos muitas coisas legais pra se fazer em sala de aula. De apresentações de conteúdo baseadas na abordagem comunicativa a jogos super eficientes que só exigiam quadro, giz e criatividade. Entretanto, muitos colegas traziam uma queixa comum: não conseguiam colaboração de suas turmas.

Imagine a situação: você rearranja toda a sua prática de ensino, adota elementos lúdicos, atividades de role-playing, você está ensinando seus alunos da Educação Básica a FALAR inglês, como eles sempre quiseram. Mas a turma não responde. Os alunos nem sequer parecem gratos. Não reconhecem seu esforço, pelo contrário: acusam o professor de não dar mais aula, ficar apenas brincando.

A frustração de um profe nessa situação é grande, não se engane. E eu falo com grande solidariadade aos meus amigos do grupo de formação continuada, que passaram por testes de resistência, de persistência, tiveram muitas crenças confrontadas, descontruídas e reconstruídas, num processo até doloroso. O TTC não foi fácil, mas não porque o curso tem conteúdos difíceis: foi emocionalmente exaustivo. Meus amigos do TTC/grupo de formação são pessoas de muita, muita coragem. Logicamente é de se esperar que a mudança traga frutos. Tanto esforço em vão? Não, gente, isso não é uma opção.

Tem duas questões aí: do mesmo jeito que a mudança na cultura do professor levou 6 meses pra começar a se consolidar, a mudança na cultura do aluno também vai levar tempo. Mudanças culturais levam tempo, Paulo Freire nunca enganou ninguém quanto a isso. O mais importante, acredito, é encarar a sala de aula como um laboratório. Uma aula que dá errado não é o fim dos tempos. É o início de tempos novos.

Lembro de minha primeira aula em cada turma minha este ano. Primeiro a carinha de descrença de meus aluninhos quando eu disse que queria saber o que achavam do ensino de inglês na escola, mesmo que fosse uma opinião ruim. Lembro da carinha de angústia boa, aquela angústia que antecede o fim de uma charada, na nossa primeira aula ministrada totalmente em inglês. Lembro do olhar de desespero na nossa primeira atividade de conversação, quando o português ficou proibido. E quer saber? Eles venceram tudo isso. Aos poucos, passo a passo, imperfeitamente... mas venceram.

Tudo isso exige tempo, paciência, muito, muito planejamento, conhecimento do perfil da turma, elasticidade e respeito pelo limite do aluno. Temos sempre que lembrar que ele só pode superar um desafio de cada vez.


Tem ainda outra questão crucial, mas vou deixar pra outro post, senão vai ficar imenso isso aqui.

8.5.10

Alunos do contra?

Uma amiga minha dizia muito que "aluno é capaz de qualquer coisa. Inclusive de dizer a verdade".

Este ano, na escola, quase todas as minhas turmas são novas pra mim.  Desde o primeiro dia de aula, meu relacionamento com cada uma delas foi muito, MUITO bom. Eu me sentia acolhida, eles se sentiam à vontade, eu tirava uma com a cara deles, eles tiravam uma com a minha, a gente ria, eu propunha desafios dentro de dados contextos e eles se engajavam sem grande resistência, aprendíamos juntos. Tudo dentro de uma convivência pacífica e tranquila.

Em todas as turmas, menos uma.

Esta turma a que me refiro não aceitava tudo de uma vez. Eles resistiam. Me desafiavam. Desafiavam tanto meu conhecimento de LI quanto a fundamentação de minha prática docente - e ainda desafiavam minha autoridade. Cada aula era como um round. A struggle.

Três semanas após o início das aulas, fui pedir ajuda a Lu (pedagoga responsável pela turma em questão). Contei a ela algumas situações e pedi ajuda. "Lu, quando você tiver seu momento com eles você poderia, assim como quem não quer nada, perguntar o que eles estão achando das aulas e da professora de inglês? Eu quero muito entender como eles se sentem em relação a mim, se tem alguma coisa que eu faço que os incomoda, o que eu posso fazer pra melhorar nosso relacionamento conturbado. Preciso muito resolver essa situação - how are they supposed to learn from me if I can't earn their trust?"

Na semana seguinte, o relatório:

"Pri, você está totalmente enganada: eles te adora, te acham superlegal, disseram que nunca tinham estudado inglês na perspectiva funcional (não com essas palavras, né?) e te elegeram tutora da turma."

Alguém aí entendeu?

Um colega me deu uma explicação interessante:

"O fato deles te questionarem não quer dizer necessariamente que eles não gostam do professor. Significa que você os provoca. E que eles sentem confiança suficiente em você para dizerem o que estão sentindo."

Faz sentido, não?

Entendam: eu não acho ruim ser questionada. Adoro alunos resistentes e questionadores - é o que eles DEVEM SER. O que não deve acontecer é o estabelecimento de um vínculo afetivo negativo. E eu sou a adulta, eu sou a professora - EU sou a parte do relacionamento que (espera-se) vai se posicionar de maneira a rever tal vínculo e estabelecer um novo. É minha responsabilidade.

Falando nisso, um aluno do PROEJA fez um comentário de resistência que eu A-DO-REI. Estávamos trabalhando pronúncia quando ele perguntou:

"Professora, se estrangeiro tem sotaque quando fala portugês, por que a gente não pode ter?"

Abri um sorriso deliciado e respondi:

"Pode sim. É meu dever ensinar algum padrão de pronúncia, mas não é sua obrigação adotá-lo."