8.5.10

Alunos do contra?

Uma amiga minha dizia muito que "aluno é capaz de qualquer coisa. Inclusive de dizer a verdade".

Este ano, na escola, quase todas as minhas turmas são novas pra mim.  Desde o primeiro dia de aula, meu relacionamento com cada uma delas foi muito, MUITO bom. Eu me sentia acolhida, eles se sentiam à vontade, eu tirava uma com a cara deles, eles tiravam uma com a minha, a gente ria, eu propunha desafios dentro de dados contextos e eles se engajavam sem grande resistência, aprendíamos juntos. Tudo dentro de uma convivência pacífica e tranquila.

Em todas as turmas, menos uma.

Esta turma a que me refiro não aceitava tudo de uma vez. Eles resistiam. Me desafiavam. Desafiavam tanto meu conhecimento de LI quanto a fundamentação de minha prática docente - e ainda desafiavam minha autoridade. Cada aula era como um round. A struggle.

Três semanas após o início das aulas, fui pedir ajuda a Lu (pedagoga responsável pela turma em questão). Contei a ela algumas situações e pedi ajuda. "Lu, quando você tiver seu momento com eles você poderia, assim como quem não quer nada, perguntar o que eles estão achando das aulas e da professora de inglês? Eu quero muito entender como eles se sentem em relação a mim, se tem alguma coisa que eu faço que os incomoda, o que eu posso fazer pra melhorar nosso relacionamento conturbado. Preciso muito resolver essa situação - how are they supposed to learn from me if I can't earn their trust?"

Na semana seguinte, o relatório:

"Pri, você está totalmente enganada: eles te adora, te acham superlegal, disseram que nunca tinham estudado inglês na perspectiva funcional (não com essas palavras, né?) e te elegeram tutora da turma."

Alguém aí entendeu?

Um colega me deu uma explicação interessante:

"O fato deles te questionarem não quer dizer necessariamente que eles não gostam do professor. Significa que você os provoca. E que eles sentem confiança suficiente em você para dizerem o que estão sentindo."

Faz sentido, não?

Entendam: eu não acho ruim ser questionada. Adoro alunos resistentes e questionadores - é o que eles DEVEM SER. O que não deve acontecer é o estabelecimento de um vínculo afetivo negativo. E eu sou a adulta, eu sou a professora - EU sou a parte do relacionamento que (espera-se) vai se posicionar de maneira a rever tal vínculo e estabelecer um novo. É minha responsabilidade.

Falando nisso, um aluno do PROEJA fez um comentário de resistência que eu A-DO-REI. Estávamos trabalhando pronúncia quando ele perguntou:

"Professora, se estrangeiro tem sotaque quando fala portugês, por que a gente não pode ter?"

Abri um sorriso deliciado e respondi:

"Pode sim. É meu dever ensinar algum padrão de pronúncia, mas não é sua obrigação adotá-lo."

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